quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Cativar





"... E foi entao que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas nao viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem es tu? perguntou o principezinho. Tu es bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propos o principezinho. Estou tao triste...
- Eu nao posso brincar contigo, disse a raposa. Nao me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- E uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar lacos..."
- Criar lacos?
- Exactamente, disse a raposa. Tu nao es ainda para mim senao um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu nao tenho necessidade de ti. E tu nao tens tambem necessidade de mim. Nao passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nos teremos necessidade um do outro. Seras para mim unico no mundo. E eu serei para ti unica no mundo... Se tu me cativas, minha vida sera como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que sera diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamara para fora da toca, como se fosse musica. E depois, olha! Ves, la longe, os campos de trigo? Eu nao como pao. O trigo para mim e inutil. Os campos de trigo nao me lembram coisa alguma. E isso e triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Entao sera maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que e dourado, fara lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o principe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu nao tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente so conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens nao tem mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como nao existem lojas de amigos, os homens nao tem mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! ... "

"O Principezinho" Antoine de Saint Exuperry